Hoje, decidi
compartilhar algumas das vivências e descobertas que tive ao longo de minha
trajetória profissional, tendo como objetivo único agregar experiências e ampliar
os horizontes de possibilidades dos colegas do mercado imobiliário.
O
que mais me encanta na profissão de arquiteta é a singularidade de cada
projeto. Não há monotonia: cada cliente, terreno e localização é um desafio
diferente. Atuando na incorporação, com o planejamento estratégico, desenvolvimento
e estruturação dos negócios imobiliários, me deparei com um dinamismo de ainda
maior!
Um fato mais
interessante ainda na minha carreira é que, embora sempre tenha atuado em incorporadoras
sediadas na cidade de São Paulo, na maior parte do tempo desenvolvi projetos em
outros municípios do estado e não apenas na capital. Tal experiência me levou a
ter como prioridade conhecer e entender estas localidades antes de propor o
desenvolvimento de um produto. Isto é, menos monotonia ainda! O olhar atencioso
para o entorno de cada empreendimento faz muita diferença para sua concepção, e
quando falamos de cidades distintas, ainda mais! Entender o tipo de produto e
partido arquitetônico mais aderente ao público até a linha de comunicação mais
eficiente a ser trabalhada para a divulgação e estratégia de marketing só é possível olhando de perto
para quem será nosso consumidor final.
Cada
cidade pela qual passei para desenvolver um produto imobiliário foi um
aprendizado, treinando e apurando minha atuação. São leis e costumes distintos
a serem absorvidos por todos os profissionais envolvidos. Percebi, a cada
produto desenvolvido, que é crucial estar sempre aberta ao novo e ao atendimento
das necessidades e anseios de cada comunidade para planejar um produto.
Lembro-me de
uma certa vez, quando fui responsável pelo desenvolvimento de uma incorporação
imobiliária na cidade de Campinas – SP. Tínhamos comprado um terreno bem localizado,
mas que tinha um passivo ambiental um tanto complexo e oneroso para ser sanado.
Entretanto, a legislação em vigor no momento da aquisição da área permitia o
uso/ocupação e um coeficiente de aproveitamento* que resultava em um VGV** que
viabilizaria, perfeitamente, o empreendimento.
Mas, eis que o
imponderável aconteceu antes da aprovação final do projeto pela Prefeitura,
devido a uma irregularidade na forma como a Lei de Uso e Ocupação da cidade
tivera sido aprovada, esta foi suspensa pelo Ministério Público e tal
reviravolta fez com que o potencial do terreno fosse reduzido, isto é, poderíamos
construir apenas metade do número de unidades que havia sido previsto quando da
aquisição do terreno.
Nesse momento,
mergulhei na cultura local, conheci ainda mais o perfil do público alvo para
saber até onde podíamos chegar para viabilizar o negócio, diante dessa grande
perda. Identifiquei, então, que as famílias que moravam no bairro, estritamente
residencial e de classe média, gostariam que seus filhos ao saírem de casa
(solteiros ou recém-casados), pudessem continuar morando ali, e este também era
o desejo dos jovens. Porém, isto era muito difícil, pois o bairro, embora consolidado,
não era verticalizado e não tinha nenhuma oferta de imóveis novos por perto.
Logo, ao perceber
que este público estava disposto a pagar até um pouco mais para adquirir um
imóvel novo naquela localização, levei à empresa a possibilidade de desenvolver
um produto residencial menor, com apartamentos mais compactos, destinado a
jovens solteiros ou novos casais, com um preço de venda mais alto, e seguindo
nesta estratégia, foi possível que com metade da área de vendas anterior, conseguíssemos
obter quase o mesmo VGV, viabilizando a incorporação.
Na maioria dos
meus projetos, como é comum, contei com a contratação de uma empresa de
pesquisa e análise qualitativa e/ou quantitativa de mercado para direcionar a
decisão pelos produtos e preços de venda a serem praticados num empreendimento.
Entretanto, sempre soube que isso não é suficiente, a proximidade do gestor com
o local e o público alvo sempre fez e fará muita diferença para o sucesso de um
projeto imobiliário.
Citando um
outro exemplo vivenciado, quando atuei em Santos, litoral de São Paulo, além de
conhecer a cidade e a localização de cada projeto, dediquei-me a compreender a
rotina e os hábitos de seus moradores. Descobri, assim, que o morador de Santos
tem uma relação muito próxima com a fotografia, talvez pela paisagem e carga
histórica que a cidade carrega. Dessa forma, utilizei este canal como norteador
da comunicação para o desenvolvimento da estratégia de marketing dos produtos, o que gerou um grande engajamento e
identificação do público.
Outro ponto de
concentração de minhas atividades foi a proximidade com o corpo de vendas de
meus projetos. Isto sempre foi muito importante para mim e se mostrou altamente
eficaz, haja visto os resultados de vendas que obtive em todos os
empreendimentos pelos quais fui responsável.
Estar próximo
ao time de vendas é importante para entender o que está funcionando nas vendas
e o que não está. Delegar aos corretores o fracasso de um produto é uma posição
muito cômoda do incorporador, que não é justa e tão pouco resolve.
Defendo sempre
que venda é presença. Tendo sido responsável pelo resultado das vendas de
produtos residenciais econômicos e de médio e alto padrão, comerciais e
hoteleiros, e em muitas cidades diferentes, posso afirmar que não existe
“receita de bolo” para venda de produtos imobiliários.
O cliente que
busca uma sala comercial é totalmente diferente do cliente que deseja encontrar
o apartamento ideal para morar com sua família. O público que busca um imóvel
de luxo para morar em Alphaville, não tem as mesmas necessidades e nem deve ser
atendido da mesma forma que um cliente que tem grande restrição orçamentária e
busca um apartamento enquadrado no programa “Minha Casa, Minha Vida”, na cidade
de Ribeirão Preto. Assim, cada estratégia de venda é única como cada
empreendimento. E esta compreensão é fundamental para atuar no desenvolvimento
e na gestão de produtos imobiliários.
Pode parecer
que estou falando o óbvio, mas não é para muitos, e por saber disto é que
divido estas linhas com meus colegas.
Ao arquiteto, gestor, corretor, e toda
a cadeia envolvida neste vasto mercado imobiliário, afirmo que o gosto pelo
novo e a curiosidade de conhecer, de fato, seu consumidor, deve permear a atuação
de todos. Sem estes ingredientes, não há êxito.
Já dizia o ditado, “trabalhe com o que
ama e nunca precisará trabalhar na vida”. E é assim que trabalho, como se cada
projeto, cada produto, fosse um presente a mim concedido!
*Coeficiente de aproveitamento =
é um número que, multiplicado pela área do terreno, indica a quantidade máxima
de metros quadrados que podem ser construídos neste, somando-se as áreas de
todos os pavimentos.
** VGV = Valor Geral de Vendas, o
valor total gerado pela venda de todas as unidades de um empreendimento
imobiliário.

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