Como Acertar no Desenvolvimento de um Produto Imobiliário?
Todos os incorporadores imobiliários acreditam ter os melhores produtos do mercado, e é certo que ninguém trabalha para fazer algo ruim, ou pelo menos não deveria. Entretanto, há produtos que vendem muito bem e há outros que nem tanto; há empreendimentos que proporcionam ótimo resultado financeiro aos seus sócios e outros que não. Mesmo que para os olhos externos todos divulguem apenas o sucesso, sabemos que, no fundo, não é bem assim na maioria dos casos.
Então, aproveitando o
atual momento de certo otimismo na construção civil e no mercado imobiliário, acredito
ser conveniente abordar o tema da concepção e o desenvolvimento de produtos,
mas trazendo-o à luz a nova sociedade na qual vivemos e para quem construímos.
Como já venho
apresentando há algum tempo, em diversos artigos, vídeos e palestras, asociedade e seus hábitos estão se transformando cada vez mais rápido, tudo
graças aos avanços absurdos advindos da tecnologia. Fala-se em mudanças
geracionais a cada 5 anos daqui para frente, e não mais a cada 10 anos como era
antes. O que isso significa? Significa que os jovens que nascerem agora possuirão
pensamentos completamente diferentes dos jovens que nascerem daqui 5 anos. Isso
mesmo, apenas 5 anos!
Vale, assim, refletir
um pouco sobre isso: um empreendimento imobiliário leva, no mínimo, metade
desse período para ficar pronto, isso desde seu lançamento. Se contarmos,
ainda, o período de desenvolvimento e licenciamento do produto, pode-se chegar
a quase 70% desse tempo, isso para projetos pequenos, em projetos maiores o
prazo de 5 anos pode, facilmente, ser ultrapassado. Assim, isso mostra que o
mercado imobiliário tem uma grande necessidade de se reinventar e “pensar fora
da caixa” para encarar as novas gerações. Qualquer negligência na concepção do
produto, hoje, mais que nunca, pode significar um fracasso nas vendas e/ou um
prejuízo financeiro e, por isso, abaixo descrevo algumas etapas importantes
neste processo que podem mitigar riscos de insucesso:
1. Conhecer o perfil específico de seu consumidor – deep profile: é importante que o
cliente seja conhecido através de análises
qualitativas e não apenas quantitativas pura e simplesmente. Por este tipo de amostragem, é
possível conhecer os desejos e expectativas do possível cliente em relação ao
produto, e com esta imersão na vida do consumidor, que vê além de aspectos
demográficos, torna-se possível conceber um produto que atenda suas
necessidades, pois, compreende-se seu arranjo familiar, profissão, tipo e local
de trabalho, hábitos de lazer e viagem, gostos estéticos e até gastronômicos e sua
projeção de vida futura. Porém, ir além da pesquisa e aproximar-se o quanto mais
for possível de seu futuro público é a chave para descobrir como lhe agradar. O
incorporador não conseguirá conceber um bom produto se olhar com distanciamento
para seu consumidor, e quanto mais aderente ao público-alvo, maior a velocidade
de vendas do produto e maior o engajamento de seu cliente com a incorporadora.
2. Curadoria de arquitetura: no momento que vivemos,
o cliente espera que os produtos estejam extremamente alinhados às suas
expectativas, e, por isso, a escolha do autor do projeto passou a ter grande
importância. Não é o caso, apenas, de uma fachada bonita ou “atemporal” (termo
que foi banalizado na incorporação, ultimamente). Realizar uma pesquisa
aprofundada para conhecer quais profissionais têm uma linha de trabalho mais
próxima das características e desejos do seu consumidor é uma etapa que não
pode mais ser negligenciada. Toda exposição de arte passa por curadoria, desfiles
de moda, também. Tudo para levar ao público, exatamente, o que atende suas
expectativas. Por qual razão no que diz respeito à arquitetura, que tem impacto
bem maior na vida de todos, não há este cuidado? É preciso mudar este cenário
na incorporação imobiliária, e com certa urgência.
3. Cocriação: também no caminho de desenvolver produtos com
os quais o cliente se identifique, nada é mais assertivo que ouvir, de fato, o
que o consumidor espera do empreendimento no qual irá morar ou trabalhar. As
marcas que dão vozes aos seus clientes conseguem ter seu valor percebido mais
facilmente, e isso proporciona que diferenciação entre as demais em seu nicho
de atuação. Há inúmeras formas de fomentar a cocriação na incorporação
imobiliária, para cada público é necessário encontrar uma, mas é algo
totalmente possível. Entretanto, pouquíssimas empresas lançam mão desta etapa
no momento da concepção do produto.
4. Pré-engenharia: no decorrer do desenvolvimento do produto,
antes mesmo de seu protocolo para as aprovações legais, já é conveniente e
necessário que sejam definidos e contratados também, além dos responsáveis pela
arquitetura, paisagismo e concepção das áreas externas e arquitetura de
interiores das áreas comuns, os principais projetistas e consultores técnicos
que poderão interferir diretamente no produto final. O cálculo e o projeto
estrutural podem ter forte impacto na arquitetura devido ao posicionamento e
dimensionamento de pilares e vigas, e esta interferência vai além da estética, pois
pode mudar a altura total do prédio e a quantidade de vagas do estacionamento,
por exemplo. Por isso, incluir esta disciplina somente após a aprovação legal
e, principalmente, a divulgação das imagens e o lançamento do empreendimento é
um risco muito grande. A mesma coisa pode-se dizer em relação ao projetista de
instalações prediais. Também ressalto que ter estas equipes técnicas atuando juntas,
neste momento, pode viabilizar detalhes de arquitetura que seriam descartados
por parecerem onerar a obra. Enfim, quanto mais tempo investido no planejamento
de uma obra, menos tempo e dinheiro será dispendido em sua execução e menos
risco haverá para o resultado do empreendimento.
5. Legislação: as leis brasileiras foram (e são) escritas,
propositalmente, de forma a dar margens às interpretações. Isto é, nada é claro
o suficiente que não possa ter seu entendimento sujeito aos interesses de quem
está com o poder da “caneta” nas mãos. Por esse motivo, o ideal é ter um
consultor (ou quantos forem necessários) que está habituado a realizar asaprovações e obter os licenciamentos necessários, pois este profissional saberá
alertar quanto ao que pode ou não ser considerado no projeto, apoiando muito os
profissionais envolvidos na concepção e desenvolvimento do produto e reduzindo retrabalhos
e tempo. Outra dica importante é
projetar de acordo com a Norma de Desempenho – NBR 15.575, que traz diretrizes
e limitadores para os empreendimentos imobiliários, assim como também respeitar
qualquer outra NBR que se aplique ao
projeto, pois isso poderá ajudar a defender a solução ou o partido
adotado caso alguma mudança incoerente às legislações seja solicitada pelos técnicos
aprovadores, o que, não raramente, acontece.
Estas são apenas algumas recomendações para a
etapa mais importante dentre todas que compõem uma incorporação imobiliária.
Todo cuidado, atenção e investimento neste momento são necessários para que o
sucesso seja completo, do lançamento até a entrega do empreendimento. Obviamente,
não há “receita de bolo” para o desenvolvimento de um produto imobiliário, mas
sem dúvidas, os pontos levantados acima ajudarão muito no alcance das metas de
resultados definidas.
Gostou deste artigo? Quer mais conteúdo sobre incorporação imobiliária? Acesse e increva-se em nosso Canal Youtube clicando aqui.

Comentários
Postar um comentário
Comente o que achou deste artigo e contribua para enriquecer nosso debate! Muito Obrigada!