Brasil: sua história, suas cidades e seus cidadãos pedem socorro!


Brasil: sua história, suas cidades e seus cidadãos pedem socorro!

Nosso país é assaltado por seus governantes há anos, décadas, séculos... e, embora, a maior parte dos cidadãos tenha total consciência dessa realidade, sempre existiu uma passividade em relação a isso. E por quê? Porque o Brasil sempre foi e, ainda é, o paraíso das oligarquias, que se sustentam no poder através de dois pilares essenciais: a falta de educação e o medo do povo, receita infalível de dominação amplamente utilizada por reinos, impérios, igrejas e outros modelos de poder ao longo da História da Humanidade. 
Só que, um dia, a conta desses séculos de omissão haveria de chegar, e é o que está acontecendo agora, com essas tantas tragédias (anunciadas) que vem se intensificando nos anos de 2018 e 2019.
Mas, omissão de quem? 
Seria do povo, que sempre percebeu a corrupção e o descaso de seus governantes e nada fez? Não, não pode ser. Não é justo nosso povo, sem instrução e coagido pelos seus medos (aqueles mais profundos), ser o responsabilizado pelo seu próprio flagelo.  
A omissão associada a corrupção sistêmica do Estado e do Poder Público é que culminaram nesse caos, no qual grande parte dos brasileiros vive hoje em dia.
Tragédias humanas se sucedem, e cabe lembrar alguns dos mais terríveis episódios: o incêndio e desabamento do prédio Wilton Paes de Almeida, ocupado irregularmente por “sem tetos” – no centro de São Paulo; o incêndio e destruição do Museu Nacional – no Rio de Janeiro; o rompimento da barragem de Brumadinho – em Minas Gerais (antes, tivemos Mariana/MG e, depois, outras duas em Rondônia); os desabrigados e mortos pelas chuvas nas capitais São Paulo, Belo Horizonte e Rio de Janeiro; e, por fim, no dia de hoje, o desabamento de dois prédios (segundo notícias, construídos pela milícia) vendidos e habitados irregularmente, na comunidade de Muzema, também no Rio de Janeiro.
E, infelizmente, essas são apenas algumas tragédias que nos atingiram recentemente. Há outras, não menos assustadoras, sabemos.
O que cada uma dessas desgraças tem em comum? 
Por trás de todas estão: grupos poderosos da sociedade exercendo o seu poder; desvio de verbas para usos indevidos que deveriam ou poderiam ser utilizadas para prevenir catástrofes; má gestão do dinheiro e patrimônio público; falta de planejamento estratégico e ação dos governos; falta de fiscalização e complacência com o que é errado por parte do Estado; falta de políticas públicas para melhoria do espaço urbano e solução dos problemas estruturais das grandes cidades; excesso de burocracia e tributos para qualquer empresário que deseja atuar conforme a lei; total descaso para com a boa educação pública, no intuito de aumentar, cada vez mais as desigualdades e a concentração de dinheiro e poder; entre outros perversos fatores.
É cruel saber que, enquanto uma incorporadora ou construtora, que atua devidamente dentro da lei, passa mais de 12 meses (às vezes bem mais que isso!) executando e licenciando um único projeto habitacional e paga uma carga tributária altíssima sobre sua receita de vendas e mão de obra (custo que, obviamente, será repassado ao preço do produto para o consumidor final, para sobrevivência da empresa), grupos criminosos constroem e vendem inúmeros prédios, no mesmo período, na completa ilegalidade e com a anuência velada do Estado (devido a ausência de fiscalização e punição adequadas), sem nenhuma segurança tanto para os trabalhadores das obras, quanto para os moradores, depois. 
E quais são as consequências dessa situação, que nos leva a tantas catástrofes?
Além da perda de muitas VIDAS, cada um de nós, brasileiros, perdemos muito mais: 
  • a saúde de nossos rios e nossa biodiversidade - com os desmoronamentos de barragens de mineração malconservadas, sem fiscalização e regulação adequada do Estado e nenhuma (ou quase nenhuma) aplicação de penalidade adequada e proporcional aos danos causados, na maioria das vezes, irreversíveis.
  • nosso patrimônio histórico, arquitetônico, cultural e científico - com os incêndios e destruição do prédio Wilton Paes de Almeida (SP), um dos marcos da arquitetura modernista, tombado em 1992, e do Museu Nacional (RJ), patrimônio de riqueza incalculável para a arquitetura, cultura, pesquisas e produção de conhecimento para o Brasil e o mundo; oriundos do total descaso e má gestão do patrimônio público.
  • a sobrevivência de nossas cidades - com o caos instalado devido às chuvas (esperadas ano a ano), consequência da urbanização falha de períodos anteriores que enterrou rios e córregos e construiu onde não se poderia; o não investimento em soluções eficazes por parte do poder público; e as dificuldades extremas criadas para que boas empresas e até empreendedores sociais atuem dentro da lei e trazendo novas tecnologias para agilizar a solução de problemas.
  • a dignidade de milhares de cidadãos - que vivem às margens da cidade e do país legal, devido à insuficiência de recursos financeiros e de educação, e estão sujeitos à ação de criminosos que se aproveitam da situação em causa própria, graças a ausência do Estado e, até, ajuda de alguns poderosos. 
Mas há uma solução?
É evidente que sim. Sabemos, no entanto, que ela não virá de forma definitiva do dia para a noite, mas há que se começar, ou nunca a alcançaremos.
Diante de tantas calamidades, agora, serão necessárias ações emergenciais da parte dos poderes públicos e é importante lembrar que estas, na maioria das vezes, apenas resolvem momentaneamente a situação. Pessoas humildes precisam de um teto decente para ir, de roupa, de comida e, em muitos casos, indenizações devem ser pagas, principalmente àqueles que perderam a vida de familiares. 
Também, se faz necessário o planejamento estratégico de ações para acabar com problemas estruturais à médio prazo, que são as causas desses desastres, tais como: políticas públicas de reurbanização de favelas e remoção de famílias das áreas de risco para casas salubres e dignas permanentes (e não provisórias); mais verba e desburocratização para políticas habitacionais sérias voltadas à baixa renda; obras e solução de longo prazo para as enchentes e chuvas intensas, assim como saneamento básico em 100% das cidades; gestão séria e preservação de nosso patrimônio histórico e cultural; regulação e fiscalização competente para a preservação de nosso meio ambiente; cobrança eficiente das multas e da execução das obras de recuperação ambiental por parte das empresas que têm o monopólio das extrações de mineração no território brasileiro; e investigação e prisão de corruptos, traficantes, milicianos, que destroem e ceifam vidas em nosso país.
Entretanto, pode ser clichê, mas é a realidade, a única forma de se acabar com todas essas mazelas que assombram o Brasil é o investimento sério e competente em educação. Com ela, começaremos a vencer batalhas aparentemente simples, mas que são fundamentais, como: não ter lixo espalhado pelas ruas, que ajudam a provocar enchentes; e, não eleger políticos corruptos para os governos, que ainda se perpetuam graças a promessas estúpidas. E, de forma mais profunda, com a boa educação dos brasileiros deixaremos de ter um povo manipulado pelo medo deste ou daquilo; não teremos mais injustiçados sociais que não sabem como e nem onde lutar por seus direitos, ou que nem sequer conhecem quais são estes; não deixaremos mais o tráfico e milicianos dominarem territórios impunemente; e conheceremos e respeitaremos nossa história, nosso patrimônio, nossa riqueza, nosso país e nosso povo. 
Esse é Brasil que eu desejo, e tenho certeza que você também, para os próximos anos.


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